27 dezembro, 2006

Toranja amarga

Porque se tornou cliché dizer mal de tudo o que se faz em Portugal...
Porque se tornou cliché criticar a música criada em Portugal e que é cantada na língua de William Shakespeare.
Porque eu não suporto a cantiguinha pseudo-cantada pelo sr. Tiago Bettencourt.
Porque sim...
Quatro premissas que são completamente verdadeiras e que, de certa forma, me entristecem.
Se Camões conseguiu, de uma forma genial e assustadoramente perfeita, enquadrar rimas numa mesma estrofe sem tirar sentido algum ao conteúdo da mesma, eu pergunto - Porquê? - a - A música pode ser uma lata de sardinhas.
A música dos Toranja não é mais do que isso: uma lata de sardinhas - Upa se aquilo ali no meio não é tambem uma cabeça de carapau - com pedaços dos mais variados vegetais.
Acredito que estou a ferir susceptibilidades com estas palavras, mas, acreditem, é por uma boa causa. Por isso mesmo, vou analisar a lógica de uma das letras do grupo. Nada mais, nada mesmo que:

Quebramos os dois

Andamos em voltas rectas na mesma esfera,
(Tudo bem. Confesso até que roça o bonito.)
Onde ao menos nos vemos porque o fumo passou
(A broca foi finalmente fumada na sua totalidade.)
e a chuva no chão revela os olhos por trás.
(Aqui entra o fisicamente impossível. Se a chuva está no chão, como pode reflectir algo que esteja por trás? A não ser, claro, que o sujeito da frente esteja deitado de barriga para o chão e consiga descortinar, num chão extremamente polido, os olhos do sujeito que está, ou suspenso, ou até mesmo em cima de si. Caramba... Isto até tem conteúdo.)
Há que limpar o restolho do que o tempo queimou
(Restolho: talvez uma das palavras que nunca imaginaria numa letra de uma música. Bem, antes "restolho" que "remela".
Pensando bem, vou refazer este verso: "Há que limpar do olho a remela que o tempo colou")

Tens fios demais a prenderem-te as cordas
(Fios a prender cordas... É lógico, sim senhor. Se as cordas forem vocais, que raio é isto? A saga "Saw"?)
Mas podes vir amanhã acreditar no mesmo Deus
Tenho riscos demais a estragar-me o quadro...
Se queres vir amanhã acreditar o mesmo Deus...

(O que é que se passou nestes últimos três versos? A broca fumada há pouco terá começado finalmente a bater? Altamente provável.)

devolve-me os laços, meu amor
(A broca durou pouco, visto que é o verso com mais sentido, tendo em conta que a música se chama "Quebramos os dois". Que fazer? Reclamar junto do fornecedor da substância ilícita. Livrinho amarelo, e tal...)

Andamos em voltas rectas na mesma esfera
(Não vale a pena bater no ceguinho...)
Mas podes vir amanhã, se queres vir amanhã, podes vir amanhã
(Afinal a ganza era de qualidade. Tem é um certo problema de timming. Vem e volta como se se tratasse de um cão a brincar ao "vai apanhar o pau" com o seu dono.)
Tens riscos demais a estragar-me a pedra
(Confirma-se a má qualidade do produto. A pedra tinha riscos. Não tinha formas amorfas e delirantes como o fornecedor prometeu, o sacana.)
mas se vieres sem corpo à procura de luz
(Isto às vezes acontece. O corpo é tipo roupa interior. As pessoas por vezes esquecem-se...)

devolve-me os laços, meu amor
(Bonito, mais uma vez...)

A pergunta que se apresenta na minha mente é a seguinte: o que preferem? Letras portuguesas sem sentido e que parecem salsichas enfiadas num pão de mistura, ou letras inglesas sem sentido e que parecem bifes de porco enfiados num pão de cachorro-quente?
Confesso que a música que os Toranja fazem possa soar bem ao ouvido, mas nada mais que isso.
Porque a musicalidade está toda lá.
Porque a lógica da letra está em todo o lado menos lá.
Porque sim...

4 comentários:

Luís Lourenço disse...

Eu depois de ler o teu post fiquei a gostar de Toranja. Se as tuas explicações para as letras estiverem correctas, isso quer dizer que existem mais malucos no mundo para alem daqueles com quem convivo no meu dia a dia! E isso deixa me muito mais descansado... Por isso digo: OBRIGADO TORANJA!

Anónimo disse...

Essa tu pequena intervenção na letra está demais.
Que comédia do crlh.
Hihihi!

Anónimo disse...

Toranja - Quebramos Os Dois

Era eu a convencer-te que gostas de mim
E tu a convenceres-te que não é bem assim...
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro
E tu a argumentares os teus inevitáveis

Eras tu a dançares em pleno dia
E eu encostado como quem não vê
Eras tu a falar para esconder a saudade
E eu a esconder-me do que não se dizia

Afinal quebramos os dois...

Desviando os olhos por sentir a verdade
Juravas a certeza da mentira
Mas sem queimar demais
Sem querer extinguir o que já se sabia

Eu fugia do toque como do cheiro
Por saber que era o fim da roupa vestida
Que inventara no meio do escuro onde estava
Por ver o desespero na cor que trazias...

Afinal quebramos os dois...

Eras eu a despir-te do era pequeno
E tu a puxares-me para um lado mais perto
Onde se contam historias que nos atam
Ao silencio dos lábios que nos mata...!

Eras tu a ficar por não saberes partir...
E eu a rezar para que desaparecesses...
Era eu a rezar para que ficasses...
E tu a ficares enquanto saías
...Não nos tocamos enquanto saías
Não nos tocamos enquanto saímos
Não nos tocamos e vamos fugindo
Porque quebramos como crianças

Afinal quebramos os dois...

...É quase pecado o que se deixa...
...Quase pecado o que se ignora...

é só uma nota.. pk criticar qd nem s sabe do q fala é um pouco ridículo.. esta é a letra da musica que referes no teu texto e nao vejo nenhum excerto que seja aquilo q comentast por aki.. cada um é livre de se expressar, mas tb é preciso saber do q se fala..

tenho dito

Joaninha disse...

adorei ver os comentários às letras...já que não consigo dormir ajudaste-me a descontrair e a rir!