Toranja amarga
Porque se tornou cliché dizer mal de tudo o que se faz em Portugal...
Porque se tornou cliché criticar a música criada em Portugal e que é cantada na língua de William Shakespeare.
Porque eu não suporto a cantiguinha pseudo-cantada pelo sr. Tiago Bettencourt.
Porque sim...
Quatro premissas que são completamente verdadeiras e que, de certa forma, me entristecem.
Se Camões conseguiu, de uma forma genial e assustadoramente perfeita, enquadrar rimas numa mesma estrofe sem tirar sentido algum ao conteúdo da mesma, eu pergunto - Porquê? - a - A música pode ser uma lata de sardinhas.
A música dos Toranja não é mais do que isso: uma lata de sardinhas - Upa se aquilo ali no meio não é tambem uma cabeça de carapau - com pedaços dos mais variados vegetais.
Acredito que estou a ferir susceptibilidades com estas palavras, mas, acreditem, é por uma boa causa. Por isso mesmo, vou analisar a lógica de uma das letras do grupo. Nada mais, nada mesmo que:
Quebramos os dois
Andamos em voltas rectas na mesma esfera,
(Tudo bem. Confesso até que roça o bonito.)
Onde ao menos nos vemos porque o fumo passou
(A broca foi finalmente fumada na sua totalidade.)
e a chuva no chão revela os olhos por trás.
(Aqui entra o fisicamente impossível. Se a chuva está no chão, como pode reflectir algo que esteja por trás? A não ser, claro, que o sujeito da frente esteja deitado de barriga para o chão e consiga descortinar, num chão extremamente polido, os olhos do sujeito que está, ou suspenso, ou até mesmo em cima de si. Caramba... Isto até tem conteúdo.)
Há que limpar o restolho do que o tempo queimou
(Restolho: talvez uma das palavras que nunca imaginaria numa letra de uma música. Bem, antes "restolho" que "remela".
Pensando bem, vou refazer este verso: "Há que limpar do olho a remela que o tempo colou")
Tens fios demais a prenderem-te as cordas
(Fios a prender cordas... É lógico, sim senhor. Se as cordas forem vocais, que raio é isto? A saga "Saw"?)
Mas podes vir amanhã acreditar no mesmo Deus
Tenho riscos demais a estragar-me o quadro...
Se queres vir amanhã acreditar o mesmo Deus...
(O que é que se passou nestes últimos três versos? A broca fumada há pouco terá começado finalmente a bater? Altamente provável.)
devolve-me os laços, meu amor
(A broca durou pouco, visto que é o verso com mais sentido, tendo em conta que a música se chama "Quebramos os dois". Que fazer? Reclamar junto do fornecedor da substância ilícita. Livrinho amarelo, e tal...)
Andamos em voltas rectas na mesma esfera
(Não vale a pena bater no ceguinho...)
Mas podes vir amanhã, se queres vir amanhã, podes vir amanhã
(Afinal a ganza era de qualidade. Tem é um certo problema de timming. Vem e volta como se se tratasse de um cão a brincar ao "vai apanhar o pau" com o seu dono.)
Tens riscos demais a estragar-me a pedra
(Confirma-se a má qualidade do produto. A pedra tinha riscos. Não tinha formas amorfas e delirantes como o fornecedor prometeu, o sacana.)
mas se vieres sem corpo à procura de luz
(Isto às vezes acontece. O corpo é tipo roupa interior. As pessoas por vezes esquecem-se...)
devolve-me os laços, meu amor
(Bonito, mais uma vez...)
A pergunta que se apresenta na minha mente é a seguinte: o que preferem? Letras portuguesas sem sentido e que parecem salsichas enfiadas num pão de mistura, ou letras inglesas sem sentido e que parecem bifes de porco enfiados num pão de cachorro-quente?
Confesso que a música que os Toranja fazem possa soar bem ao ouvido, mas nada mais que isso.
Porque a musicalidade está toda lá.
Porque a lógica da letra está em todo o lado menos lá.
Porque sim...
Porque se tornou cliché criticar a música criada em Portugal e que é cantada na língua de William Shakespeare.
Porque eu não suporto a cantiguinha pseudo-cantada pelo sr. Tiago Bettencourt.
Porque sim...
Quatro premissas que são completamente verdadeiras e que, de certa forma, me entristecem.
Se Camões conseguiu, de uma forma genial e assustadoramente perfeita, enquadrar rimas numa mesma estrofe sem tirar sentido algum ao conteúdo da mesma, eu pergunto - Porquê? - a - A música pode ser uma lata de sardinhas.
A música dos Toranja não é mais do que isso: uma lata de sardinhas - Upa se aquilo ali no meio não é tambem uma cabeça de carapau - com pedaços dos mais variados vegetais.
Acredito que estou a ferir susceptibilidades com estas palavras, mas, acreditem, é por uma boa causa. Por isso mesmo, vou analisar a lógica de uma das letras do grupo. Nada mais, nada mesmo que:
Quebramos os dois
Andamos em voltas rectas na mesma esfera,
(Tudo bem. Confesso até que roça o bonito.)
Onde ao menos nos vemos porque o fumo passou
(A broca foi finalmente fumada na sua totalidade.)
e a chuva no chão revela os olhos por trás.
(Aqui entra o fisicamente impossível. Se a chuva está no chão, como pode reflectir algo que esteja por trás? A não ser, claro, que o sujeito da frente esteja deitado de barriga para o chão e consiga descortinar, num chão extremamente polido, os olhos do sujeito que está, ou suspenso, ou até mesmo em cima de si. Caramba... Isto até tem conteúdo.)
Há que limpar o restolho do que o tempo queimou
(Restolho: talvez uma das palavras que nunca imaginaria numa letra de uma música. Bem, antes "restolho" que "remela".
Pensando bem, vou refazer este verso: "Há que limpar do olho a remela que o tempo colou")
Tens fios demais a prenderem-te as cordas
(Fios a prender cordas... É lógico, sim senhor. Se as cordas forem vocais, que raio é isto? A saga "Saw"?)
Mas podes vir amanhã acreditar no mesmo Deus
Tenho riscos demais a estragar-me o quadro...
Se queres vir amanhã acreditar o mesmo Deus...
(O que é que se passou nestes últimos três versos? A broca fumada há pouco terá começado finalmente a bater? Altamente provável.)
devolve-me os laços, meu amor
(A broca durou pouco, visto que é o verso com mais sentido, tendo em conta que a música se chama "Quebramos os dois". Que fazer? Reclamar junto do fornecedor da substância ilícita. Livrinho amarelo, e tal...)
Andamos em voltas rectas na mesma esfera
(Não vale a pena bater no ceguinho...)
Mas podes vir amanhã, se queres vir amanhã, podes vir amanhã
(Afinal a ganza era de qualidade. Tem é um certo problema de timming. Vem e volta como se se tratasse de um cão a brincar ao "vai apanhar o pau" com o seu dono.)
Tens riscos demais a estragar-me a pedra
(Confirma-se a má qualidade do produto. A pedra tinha riscos. Não tinha formas amorfas e delirantes como o fornecedor prometeu, o sacana.)
mas se vieres sem corpo à procura de luz
(Isto às vezes acontece. O corpo é tipo roupa interior. As pessoas por vezes esquecem-se...)
devolve-me os laços, meu amor
(Bonito, mais uma vez...)
A pergunta que se apresenta na minha mente é a seguinte: o que preferem? Letras portuguesas sem sentido e que parecem salsichas enfiadas num pão de mistura, ou letras inglesas sem sentido e que parecem bifes de porco enfiados num pão de cachorro-quente?
Confesso que a música que os Toranja fazem possa soar bem ao ouvido, mas nada mais que isso.
Porque a musicalidade está toda lá.
Porque a lógica da letra está em todo o lado menos lá.
Porque sim...