03 novembro, 2007

Lembrança de um Mestre...

Estava por aqui a pensar escrever quando me lembrei que ja nao lia Fernando Pessoa à algum tempo.
Então ora aqui vai algo para nós pensarmos como o mundo poderia ser tão simples...

Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos
XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não esta,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

14 comentários:

_MarDanS_ disse...

Simplicidade pura e verdadeira... E transparecer o poema para a realidade, deixou-me a pensar...
Podes continuar a publicar poemas...

Luís Lourenço disse...

Mas aqui falasse de um rio e não de uma ribeira...lol

Anónimo disse...

"Estava por aqui a pensar escrever quando me lembrei que ja nao lia Fernando Pessoa à algum tempo."

Permita-me que o corrija... é há e não à...

-- Ana -- disse...

Fernando Pessoa... ou melhor... Alberto Caeiro... há quanto tempo não lia nada dele desde o secundário... e o que eu gostava destes poemas...
"da minha aldeia vejo tudo quanto da terra se pode ver do universo. porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura"

Anónimo disse...

Simplesmente PROFUNDO. Como a Rosa disse, e passo a citar:"Dá vontade de conhecer o rio da aldeia dele." Eu gosto de Fernando Pessoa, acho genial que haja, ou melhor, existisse alguém tão complicado mas ao mesmo tempo tão simples na escrita.
Já agora, qual é o rio que passa na terra dele e qual é a terra dele?

Luís Lourenço disse...

Senhor anonimo! Agradeço a sua visita. Mas em relação à sua correcção tenho algumas duvidas de qual será a maneira correcta de escrever. Eu na altura tive duvidas mas acabei por escrever assim porque me pareceu a forma mais correcta, e continuo a achar isso... Mais uma vez agradeço a sua correcção, e gostava de ter a certeza da forma correcta de o escrever!

Em relação ao rio dele, se soubessemos qual era, o poema deixava de ter significado porque passava a ser um rio como o tejo! É simplesmente o rio da terra dele!

Anónimo disse...

A minha terra tambem tem rio e tambem não é o Tejo, será que sou da terra dele?

-- Ana -- disse...

eheh a minha tb tem rio...:P

Anónimo disse...

Meu caro Luís, "há" é a forma do verbo haver (3ª pessoa do singular do presente do indicativo) e a melhor maneira de verificarmos quando devemos usar "há" ou "à" (contração da preposição "a" e do artido definido "a"), é substituir o 1º pelo seu sinónimo: "existe".
Ora, no seu texto, e visto que se refere a um período de tempo, essa substituição é possível, logo tem de usar o verbo haver.

_MarDanS_ disse...

Caro anónimo, toda a gente comentou o conteúdo do post, mas você ficou-se pela escrita... Umas pessoas vêem a escrita e outras, para lá da escrita... São opções...

Apenas uma pergunta ao senhor(a) anónimo(a), por acaso é licenciado(a) em letras?

Por acaso não tem por aí umas observações positivas?

Ah, Luís, ele tem razão, é mesmo com 'h'...

Luís Lourenço disse...

Então mais uma vez vou agradecer a rectificação ortográfica feita pelo nosso caro anonimo. E enviar um pedido de desculpas a todos os nossos leitores pelo meu erro ortográfico... Continuarei a tentar nao cometer erros, mas obviamente que eles podem acontecer...

Shoina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Shoina disse...

Simplesmente puro e cristalino, talvez como as águas do rio (difícil)...
Não te preocupes com o erro, não é assim tão grave e fica pequenino diante da beleza do poema...

Anónimo disse...

Olá. Esta conversa está extremamente interessante, senão ora vejamos que outra situação poria os portugueses a discutir formas verbais e gramática portuguesa. Como tal, pergunto ao senhor anónimo que me explique porque, de forma não tão gramática, acha que a frase correcta é com "h". Sinceramente tenho dúvidas nas duas hipoteses, mas parece-me que o "à" da frase não implica nem remete para o mencionado verbo existir, é apenas um elemento de ligação na dita frase. Obrigado. Portem-se.